sexta-feira, 14 de setembro de 2007

A arte através de fitas magnéticas.

“It is change, continuing change, inevitable change, that is the dominant factor in society today.

No sensible decision can be made any longer without taking into account not only the world as it is,

but the world as it will be”.
Isaac Asimov

A videoarte tem uma estrita relação com a tecnologia desde o seu surgimento, uma vez que esta forma de arte não seria possível sem o advento do vídeo, uma nova tecnologia que não era nem cinema e nem televisão, e que, segundo o teórico francês Philipp Dubois, não é nada mais do que a passagem entre cinema e tv, que não tem sexo nem nome. Bem parece que diversos artistas da época discordaram do senhor Dubois e se apropriaram dessa nova tecnologia para produzir obras que não eram realmente nem cinema e muito menos tv, e sim algo completamente novo: videoarte, que pode ou não possuir roteiros, atores, diálogos e que atua muitas vezes na contramão da lógica televisiva.

Um dos precursores foi o coreano Nam June Paik, considerado o pai da videoarte, que em um contexto onde os artistas procuravam uma arte contrária à comercial - principalmente a que era veiculada pela televisão - o vídeo parece ter servido como uma luva para as suas performances midiáticas. Assim como Paik, muitos artistas acharam o vídeo mais atrativo do que a película, pois era mais acessível, além de vir acoplado com tecnologias que permitiam não só a edição como também a modificação (através de efeitos e distorções). Dessa forma, o vídeo além de fornecer um novo suporte que poderia ser utilizado pelos artistas, fornece também novas ferramentas para que eles trabalhem e produzam obras como em Documenta 6 Satellite Telecast, de1977, em que ele se utiliza desses low tech tricks para modificar as imagens que capturou.

No Brasil, a videoarte teve um desenvolvimento um tanto peculiar, seja pela dificuldade de acesso aos equipamentos - pois as câmeras eram geralmente emprestadas por alguém que adquirira a novidade no exterior, cedidos por alguma instituição, ou adquiridos por vias ilegais, os equipamentos de edição e manipulação de imagens por sua vez, eram quase inexistentes aos artistas. O período histórico que o país atravessava no momento também deixou sua marca na videoarte, bem como em todas as esferas social, política e cultural, a ditadura militar foi um dos períodos mais traumáticos da história do Brasil, a repressão exercida pelos militares impedia que os artistas realizassem performances públicas. A câmera então apresenta-se como uma janela pela qual o artista poderia chegar ao público: através dessas obras eles passaram a agregar o conceitualismo, a performance e a body art em suas obras, além de terem bom motivo para questionar os meios de comunicação de massa dominados e censurados pelos militares.

Neste contexto é que Paulo Bruscky, um dos pioneiros da arte tecnológica no Brasil produziu diversas obras de videoarte, como Registros, de 1980. No vídeo, vemos o artista conectado a um eletroencefalograma, que registra suas ondas cerebrais. Para um olhar mais desavisado pode parecer apenas registro de performance. No entanto, promove uma arte que pode ser resultante apenas dessa simbiose entre o corpo e a câmera de vídeo. Tratando-se assim, de um diálogo estético entre o corpo e a máquina, potencializando, dessa forma, a mensagem pretendida pelo artista.

O trabalho desses artistas com o vídeo parece ter sido um dos primeiros flertes da arte com a tecnologia eletrônica que começava então a modificar o cotidiano do mundo inteiro. Desde então, e cada vez mais os artistas, vêm se apropriando dessas inovações, ou será que essas inovações é que estão permeando cada vez mais a nossa cultura e sociedade ?


Leonardo Lima.